Gastronomia Sustentável: um caminho para reduzir o desperdício
- ivbatistella
- 10 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Indo além do aproveitamento integral dos alimentos, a prática representa alternativas para uma alimentação mais saudável, junto da reciclagem

A gestão ambiental conta com uma preocupação de incluir tecnologias e práticas no dia a dia capazes de influenciar positivamente o meio ambiente. Dentro disso, a Gastronomia Sustentável surge como uma alternativa para evitar o desperdício através da mudança de hábitos culturais no que diz respeito ao consumo e gerenciamento de alimentos, passando pelo cotidiano dos cidadãos até grandes corporações alimentícias e restaurantes familiares.
Segundo a nutricionista e Doutora em Ciências dos Alimentos, Andréa Paiva, o termo vai além do aproveitamento integral dos alimentos, com intuito de diminuir o desperdício. A Doutora explica que a Gastronomia Sustentável engloba diversos fatores, como uma produção alimentar mais limpa, com utilização de menos produtos prejudiciais à saúde desde a agricultura até a forma como os alimentos chegam até o consumidor. Assim, o termo sustentável também inclui o planejamento do cardápio (valorizando insumos que não agridam o meio ambiente), fornecedores (agricultores e práticas adotadas em plantações), reciclagem e, principalmente, o gerenciamento dos resíduos.
Paiva exemplifica a questão através dos seguintes hábitos:
- Reciclagem e reutilização de embalagens: deve-se ter em mente uma preocupação com o destino adequado desses materiais;
- Óleo de cozinha: entregue/vendido para reciclagem;
- Resíduos sólidos: gerenciados de forma adequada, de acordo com a legislação vigente;
- Produção de adubo: a partir de resíduos, utilizando a técnica da compostagem;
- Horta: se possível, possuir uma horta para utilizar produtos naturais e poder utilizar o adubo, diminuindo a produção de lixo;
- Treinamento de colaboradores: no caso de restaurantes, essa etapa é extremamente importante. A equipe precisa ser bem treinada para que a sustentabilidade possa ser aplicada na íntegra.
Aplicação da prática no cotidiano
Contribuir para a sustentabilidade é mais fácil do que se espera. A utilização integral dos alimentos, como folhas de couve e embalagens de produtos prontos é um exemplo simples e facilmente incluído no dia a dia. Ao buscar alternativas e procurar novas receitas, é possível descobrir a utilidade de diversos resíduos que são comumente descartados e desperdiçados.
Para isso, contudo, é preciso entender que a maneira com a qual os alimentos são desperdiçados está inclusa em um aspecto cultural da nossa sociedade. A sustentabilidade, segundo Paiva, não é fundamentada e, portanto, é difícil de ser incluída de forma prática tanto por restaurantes quanto por indivíduos. Para que possamos caminhar em direção a um futuro mais ecológico, é preciso abordar a raiz do problema: a educação. Ao ser construída e fomentada em escolas e universidades, na sociedade como um todo e na grande mídia, todos fazem um papel importante para as gerações atuais e futuras.
“Além disso, para ter sustentabilidade [em um estabelecimento alimentício] é importante fazer algum investimento e a grande maioria dos restaurantes trabalha no limite financeiro”, afirma a nutricionista. Contudo, ela ressalta que “a sustentabilidade só agrega à empresa''. Imagine um restaurante 100% sustentável, ele iria reduzir seus custos, auxiliaria na redução da fome endêmica, impactando na realidade social e econômica.” Pensando em um aspecto comercial, é possível entender que a prática também pode gerar um marketing positivo para a empresa. Isso ocorre pois o assunto tem ganhado cada vez mais notoriedade, graças a necessidade de se aplicar a sustentabilidade de forma crescente no cotidiano da sociedade como um todo.
Em uma simples receita de bolo de laranja, a nutricionista nos dá exemplos práticos de como aproveitar resíduos alimentares: com a casca da laranja, é possível fazer temperos para salada, aromatizantes para carros e até mesmo acender churrasqueiras. A casca dos ovos também pode ser aproveitada como adubo para plantas, ao ser triturada e limpa, e até mesmo como farinha de consumo humano ou para animais de estimação.
A gastronomia sustentável no combate ao desperdício
No dia a dia, é cada vez mais comum que grandes quantidades de alimento vão para o lixo. Ao cozinhar mais do que o necessário, muita comida é jogada fora após ficar certo tempo na geladeira – ao somar todas as pessoas em um estado que fazem isso, a taxa de desperdício se torna alarmante. Segundo o Índice de Desperdício de Alimentos 2021, realizado pela ONU, cerca de 17% de todos os alimentos disponíveis para consumo são desperdiçados.
Para começar a se preocupar realmente com a sustentabilidade, Paiva explica que atitudes simples fazem toda a diferença. A limpeza e manutenção de equipamentos e acessórios na cozinha também se encaixa na questão, para evitar a troca desnecessária de um produto que se utilizou de diversos recursos naturais para existir. “Que tal começar a pensar em separar o lixo orgânico dos recicláveis? E calcular a quantidade de comida que irá fazer, congelar já ajuda bastante. [...] Aproveitar os alimentos, usar as folhas e talos nas sopas. O frango que sobrou pode virar outro prato e não ser jogado fora”, exemplifica a nutricionista.
A gastronomia sustentável e as diversas práticas que estão inseridas nela também podem ajudar na composição de uma alimentação mais saudável. Ao incentivar a utilização integral dos alimentos, consumi-los em sua totalidade também possibilita preparações culinárias mais benéficas à saúde. “O foco é cortar mais, abrir menos. Ou seja, cortar frutas e vegetais, abrir menos caixas e latas”, afirma Paiva. Praticar a sustentabilidade na cozinha e no cotidiano pode gerar, inclusive, uma grande satisfação – contribuindo com o meio ambiente e a sociedade.
Por fim, a nutricionista sugere formas de se aplicar a gastronomia sustentável na prática: com incentivo fiscal, educação nas escolas e universidades. Segundo ela, é uma construção, um processo em que cada cidadão colabora com suas atitudes para que todos possam conviver em um ecossistema equilibrado e saudável para as próximas gerações.
Reportagem produzida para o Impacto Ambiental, projeto de extensão da UNESP Bauru ministrado pelo Prof. Francisco Rolfsen Belda. Texto originalmente produzido no dia 04 mar. 2022.
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